O Dieese, que acompanha e analisa as negociações coletivas de centenas de categorias, observa uma significativa melhora no cenário desenhado nas mesas de negociação durante o primeiro semestre deste ano em relação ao anterior. Das 220 negociações da data-base junho, analisadas até 9 de julho, 85,9% resultaram em ganhos reais aos salários
O percentual de resultados iguais à inflação foi de 12,3% e abaixo dela, de apenas 1,8%. No recorte por categorias selecionadas nas últimas 12 datas-bases, destacaram-se as negociações dos trabalhadores e trabalhadoras no ramo do vestuário e calçadista, ambos com mais de 85% de resultados acima do INPC; e pelas categorias dos rurais, metalúrgicos, trabalhadores da construção e mobiliário e dos transportes, todas com ganhos reais em mais de 70% dos casos analisados no período.
Em relação aos pisos das categorias selecionadas para junho, os maiores valores médios nos últimos 12 meses foram observados nas negociações dos trabalhadores na indústria do papel (R$ 1.717,41) e na metalúrgica (R$ 1.707,21).
Retomada após longo período de perdas
As negociações coletivas do primeiro semestre mostram retomada de quadro favorável, após longo período de perdas, uma vez que ao longo da pandemia, em 2021 e 2022, foram impostas pesadas perdas aos valores reais dos salários.
De janeiro a junho deste ano, cerca de 10% dos reajustes resultaram em ganhos reais acima de 3%. Desses, 25% foram superiores a 5%. A eleição de Lula e o aumento real do salário mínimo pesaram positivamente para melhorar o cenário das negociações.
Entre os fatores que contribuíram para os resultados positivos os técnicos do Dieese destacam os seguintes:
- a queda da inflação, que facilitou a negociação de reajustes com ganhos reais;
os reajustes do salário mínimo em janeiro e maio; - saldo positivo de empregos formais entre janeiro e maio de 2023, com novos 865 mil postos de trabalho, sobretudo nos serviços e na construção;
- mudanças nas expectativas dos indicadores econômicos. A inflação segue tendência de queda e a previsão é de que fique em baixos níveis, fechando o ano em 4,9%;
- crescimento maior do PIB do que o 0,8% esperado no início do ano. No momento, a previsão é de 2,2%, ainda que a última prévia divulgada pelo Banco Central tenha indicado queda de 2,0% em maio em relação a abril – resultado que acendeu o sinal amarelo para os próximos meses e, se persistir, para o ano;
- no segundo semestre, mantidos o cenário de inflação mais baixa e certo otimismo econômico, como há muitas negociações de categorias com maior poder de mobilização, dos setores mais dinâmicos, o quadro pode continuar favorável.